"A matança que quase ninguém viu"

Um dos argumentos mais usados por pessoas que querem "estragar" a Bíblia é a matança das crianças inocentes a mando de Herodes e a fuga para o Egito relatadas em Mt 2:12-20. Segundo eles, apenas Mateus registra o evento e mais nenhum evangelista ou historiador da época, o que faz o acontecimento não ter ocorrido e ser invenção do autor para o nascimento de Jesus ser perfeitamente como estava nas profecias.

Eles também usam o Evangelho de Lucas como argumentos por Lucas escreveu: "Também a mim me pareceu bem, depois de haver diligentemente investigado tudo desde o princípio, escrevê-los para ti segundo a ordem, excelentíssimo Teófilo." (Lucas 1:3), ou seja, ele fez uma pesquisa e escreveu tudo o o que encontrou. Para os alegadores, um fato tão grande e comovente assim não poderia passar em branco. Mas foi um fato "tão grande"?  Belém não era um cidade grande (e nem o centro das atenções do Império) e o número de crianças abaixo de dois anos não poderia ser maior de 50, assim não seria um evento tão grande (em quantidade, não em crueldade) como dizem os céticos. Logo houveram matanças muito piores no Império Romano e uma matança em uma cidade pequena não teria tanto ênfase para os historiadores da época relatarem, como Flávio Josefo.

Mas acontece que não existe nenhuma contradição e sim omissão. Qual a diferença? Contradição é Incompatibilidade entre alegações atuais e anteriores ¹ e omissão Ato ou efeito de omitir ². Seria contradição se Lucas tivesse dito que Jesus e sua família tivessem ido a Pérsia enquanto Mateus fala que foram ao Egito. Mas não é isso que acontece. Lucas não diz nada, assim como os outros evangelistas.

Sabemos que já nos primeiros tempos do Cristianismo o Evangelho de Mateus ficou conhecido por muita gente e alguns aceitaram seu relato e a história do massacre, como Justino Mártir em Diálogo com Trifão e São Irineu em Contra as heresias. Assim, se tal relato fosse mentira ninguém o aceitaria. Orígenes também tratou o assunto como histórico em Contra Celso. Fica claro portanto que os primeiros cristãos e seus inimigos não questionaram o evento, o que seria impossível de acontecer se ele fosse uma mentira.

"Mas porque ninguém além de Mateus escreveu sobre o caso?" Dos evangelistas, apenas Mateus e Lucas falam da Infância de Jesus, assim apenas eles poderiam citar o evento. Porém, o livro apócrifo A Assunção de Moisés cita Herodes e o compara com o Faraó que também mandou matar crianças quando Moisés se salvou (Ex 1:22, A Assunção de Moisés, 6). Não é de duvidar que Herodes tenha feito tudo isso, pois além de governante e pagão, ele era louco pois além daqueles pequeninos, ele também mandou matar familiares e outras inúmeras pessoas.

Outro ainda dizem que é impossível o massacre e a fuga para o Egito acontecerem, pois ele contradiz o Evangelho de Lucas, onde diz que todos os anos Jesus e sua família iam a Jerusalém na Páscoa (Lc 2:41). Mas Mateus não diz quanto tempo a família ficou no Egito e muito menos quantos anos Jesus tinha quando isso aconteceu. Quando o massacre aconteceu, Jesus já tinha por volta de 2 anos (Herodes mandou matar crianças de até 2 anos) e estavam no ano 4 a.C e assim ficaram menos de um ano no Egito, pois o Herodes morreu nesse mesmo ano e Mateus relata que Jesus e sua família voltaram quando o rei morreu (Mt 2:15). Não existe nenhuma contradição, mas apenas uma omissão por parte de Lucas como foi dito anteriormente.

A Igreja Católica, no dia 28 de Dezembro celebra a missa em homenagem aquelas crianças inocentes que foram cruelmente mortas, na Festa dos Santos Inocentes.